O Programa Art Luz da prefeitura de Macaé promoveu o II Encontro das Ruas, na noite desta quarta-feira (24), na praça do bairro Fronteira. O evento reuniu mais de 200 bailarinos de Hip Hop dos núcleos do programa do Morro de Sant’Anna, Parque Aeroporto, Nova Holanda, Malvinas e da própria Fronteira. Os bailarinos são crianças e adolescentes com idades entre sete e 19 anos. Pais, amigos e vizinhos também marcaram presença no encontro.
Segundo a diretora geral do programa Art Luz, Ângela Terra, o objetivo do II Encontro nas Ruas – o primeiro foi na Nova Holanda, no dia 12 de setembro – é valorizar a integração entre os distintos pólos de dança de rua. “Até o final do ano, realizaremos mais atividades como estas”, garante, lembrando que são 300 bailarinos que aprendem Hip Hop em todos os núcleos.
Para o decorador Damião Linu Silva, de 20 anos, aluno de dança de rua há sete anos e atualmente professor de Hip Hop de 16 alunos do programa na Fronteira, o Art Luz o ensinou a crescer como pessoa, influenciando seu modo de pensar e de agir. “Minha família sempre me apoiou nas atividades que desempenho no programa porque, dessa forma, meu pai e minha mãe se sentiam seguros por eu estar num caminho que me afastou do mundo das drogas e do álcool”, ressalta ele.
- Com meus alunos, eu dialogo a fim de conscientizá-los sobre a realidade, pois através da dança vivemos em um mundo só nosso. Tudo parece sonho. Por isso, não precisamos fugir da realidade, uma vez que o Hip Hop nos proporciona uma terapia muito significativa e profunda – comenta Damião.
Quem está seguindo os passos dele é Alisson Dias de Azevedo, de apenas 11 anos de idade, ele está há um ano aprendendo dança de rua no Programa Art Luz. Morador do bairro Nova Holanda, ele estuda na terceira série do Ensino Fundamental do Colégio Municipal Wolfango Ferreira. “Dançar me dá alegria. Me sinto livre e solto quando danço. Gosto do movimento pop”. Segundo seu professor, Alencar Rosa Ramos, pop é um movimento em que se faz brake, quando se balança o todo o corpo.
Alisson disse que quando crescer quer ser professor de dança para ajudar outras crianças da mesma forma que está sendo ajudado por Alencar. O professor ressaltou a capacidade de esforço do pequeno morador da Nova Holanda. “Ele é dedicado. As aulas têm feito bem a ele. Converso com ele com a finalidade de sensibilizá-lo de que o mundo cultural, com conhecimentos educativos, é o caminho certo. Busco mostrar-lhe que a vida, dessa maneira, é diferente daquilo que ele vê em sua realidade, pois pela dança de rua se fica longe das mazelas sociais”, analisa Alencar.
Presente no evento na Fronteira estava a coreógrafa e professora de dança, Alessandra Gripp. Ela ressaltou que a base e o alicerce de seu trabalho são os elementos da dança de rua. Alessandra foi vencedora como coreógrafa por intermédio do trio contemporâneo avançado da Cia Art Luz de Dança e Teatro, no Festival de Dança de Joinville, realizado em julho último, na cidade catarinense, com a coreografia Todo Bobo, onde ela aplicou conhecimentos e evoluções do Hip Hop.
Na Praça da Fronteira, também foi feita uma mostra de três telas de grafite, duas pintadas por profissionais e uma pintada por aluno do programa Art Luz. De acordo com o professor de grafite do Art Luz, Muk, as linguagens do grafite e da dança de rua juntas mostram a importância da cultura Hip Hop para a juventude da periferia.
Hip Hop
Hip hop é um movimento cultural iniciado no final da década de 1960 nos Estados Unidos como forma de reação aos conflitos sociais e à violência sofrida pelas classes menos favorecidas da sociedade urbana. É uma espécie de cultura das ruas, um movimento de reivindicação de espaço e voz das periferias, traduzido nas letras questionadoras e agressivas, no ritmo forte e intenso e nas imagens grafitadas pelos muros das cidades.
Como movimento cultural, o hip hop é composto por quatro manifestações artísticas principais: MCing que é a manifestação do mestre de cerimônias, que anima a festa com suas rimas improvisadas,a instrumentação dos DJs, a dança do “breaking” e a pintura do grafite.
No Brasil, o movimento hip hop foi adotado, sobretudo, pelos jovens negros e pobres de cidades grandes, como São Paulo, Rio de Janeiro, Brasília e Porto Alegre, como forma de discussão e protesto contra o preconceito racial, a miséria e a exclusão. Como movimento cultural, o hip hop tem servido como ferramenta de integração social e mesmo de re-socialização de jovens das periferias no sentido de romper com essa realidade.