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HPM debate forma de agilizar atendimento a criança vítima de violência

09/11/2007 16:52:01 - Jornalista: Leonardo Cosendey

Nesta sexta-feira (9), foi realizada no Hospital Público Municipal de Macaé (HPM) a segunda das duas palestras dedicadas ao tema: “Atendimento à criança vítima de violência”. Agora, o Departamento de Educação Continuada (DEC) da instituição pretende organizar os temas debatidos na forma de um protocolo voltado para agilizar o atendimento a menores vítimas de violência.

– Não podemos postergar o atendimento, principalmente nos casos de violência sexual. Se a contracepção de emergência não for feita a tempo, por exemplo, podemos sair do problema do abuso e cair em outro também grave, o do aborto – ressaltou o pediatra Rafael Vicente, do HPM, organizador do evento.

Com ele, participaram o procurador do Ministério Público do Trabalho Wilson Prudente e o psicólogo Renê Vinícius Ferreira. Durante a palestra, foram apontadas as formas de violência cometidas contra menores, suas causas, conseqüências e formas de combatê-las. “O abuso sexual é o que mais chama a atenção e mais causa mobilização, mas, como profissionais da saúde, não podemos nos deixar levar pela emoção. Temos que tratar do assunto cientificamente”, apontou o psicólogo Ferreira.

– Se uma mãe traz uma criança que possivelmente foi violentada ao hospital e conta uma história contraditória, omitindo o agressor, não nos cabe julgá-la. Muitas vezes ela tenta protegê-lo por depender dele e não ter outra alternativa a não ser permanecer a seu lado. Além disso, às mulheres tradicionalmente é dada menos autoridade, e elas tentam impor limites aos filhos batendo neles – disse.

Violência tem raízes profundas, segundo procurador

Para o procurador Wilson Prudente, a violência contra crianças e sua exploração como força de trabalho é reflexo de um processo histórico: “Quando os portugueses chegaram ao Brasil, escravizaram inclusive crianças índias. Mais tarde, durante a escravidão dos negros, 70% dos africanos que eram trazidos tinham menos de 18 anos. Mesmo depois da proclamação da República, essa situação se manteve”, contou.
– Crianças que ficam pelas ruas trabalhando estão sujeitas também à exploração sexual. A prostituição já foi apontada pela Organização Internacional do Trabalho como uma das piores formas de trabalho infantil, mas é um problema que persiste em nosso país – completou Prudente.
Segundo ele, crianças vítimas de maus-tratos reproduzem a violência que sofrem, num ciclo sem fim. “A sociedade é um laboratório da violência. Para dar fim a isso, é necessário promover a igualdade social”, afirmou, completando que “60% da população brasileira não têm acesso a direitos constitucionais e vivem num Estado à margem que cresce rapidamente. Essas pessoas não têm como denunciar a violência que sofrem, pois não existe a garantia de sua segurança.”

Protocolo de atendimento como referência nacional

– É muito importante a iniciativa do HPM de criar este protocolo envolvendo as instituições jurídicas. Não tenho dúvidas de que o modelo proposto pela instituição será referência para vários outros hospitais – afirmou Prudente.

Ele salientou que a segurança dos profissionais de saúde deve estar resguardada para que eles não tenham medo de represálias ao denunciar alguma violência cometida contra crianças. “Não importa se a família for contra a denúncia, nem se existir apenas a suspeita; a denúncia será investigada e alguém será penalizado”, completou.

O pediatra Rafael Vicente também apontou a possibilidade de o protocolo de atendimento do HPM ser transmitido a outras instituições: “Queremos formar um grupo que vá a outras instituições hospitalares para adaptar nosso protocolo de atendimento às realidades delas. Não devemos pensar apenas localmente, mas além”, finalizou.