Com pouco mais de um mês de funcionamento, o Abrigo Municipal Pousada da Cidadania já apresenta resultados concretos junto à população de rua. Uma iniciativa da prefeitura de Macaé, por meio da secretaria Especial de Desenvolvimento Social e Humano, o espaço mantém 18 abrigados, pessoas convidadas a participar no programa de resgate à cidadania e que hoje são acompanhados por equipe multidisciplinar.
- Nas abordagens aos moradores de rua que fazemos periodicamente nas ruas e praças da cidade, convidamos para ingresso no Programa Pousada da Cidadania, uma proposta recente, que nasceu com o propósito de resgatar a cidadania desta parcela da população, garantindo acompanhamento médico, psicológico, social, pedagógico e profissionalizante - declarou a assistente social Ana Dárcia de Barros Palmeira, profissional engajada no trabalho.
Estar na Pousada da Cidadania significa seguir uma rotina. No que se refere à área de saúde, esta rotina inclui exames clínicos e laboratoriais como de toxoplasmose, HIV, sífilis, hemograma completo, teste de tuberculose e raio-X, quando verificada a necessidade. A rede de saúde funciona plenamente, garantindo atendimento e acompanhamento. Os exames realizados nos abrigados já detectaram a existência de doenças como tuberculose, HIV, hanseníase, hipertensão e escabiose. A maioria dos abrigados apresenta quadro de alcoolismo.
Cada abrigado tem suas questões tratadas individualmente. Nesse sentido há encaminhamentos para tratamento em programas municipais como o Centro de Atenção Psicossocial – Álcool e Droga (CAPS-ad), Programa de Tuberculose, entre outros, valendo mencionar ainda a colaboração dos diversos órgãos parceiros como Educação, Cetep e Fundação Leão XIII que somam no processo de qualificação profissional.
A maioria dos abrigados está tirando a segunda via de seus documentos de identificação, providência necessária para efetivo ingresso no mercado de trabalho. Dois dos abrigados já desfrutam de uma oportunidade de trabalho, atuando num restaurante da cidade havendo, segundo a assistente social Ana Dárcia, outros igualmente prontos para o mercado de trabalho.
Um caso deste é Reginaldo, 32 anos, natural de Barra Mansa, há oito anos em Macaé. Abrigado na Pousada, ele conta ter vindo para trabalhar na construção civil, e depois fez trabalhos temporários como jardineiro e pintor. Por último, trabalhou numa multinacional de bebidas como ajudante de pátio, com a qual ainda mantém vínculo empregatício sem, no entanto, receber remuneração.
Reginaldo convalesce de uma cirurgia no pulmão, que teve parte retirada, razão de seu afastamento do trabalho. Sem remuneração e sem ter para onde ir após sua saída do hospital, ficou nas ruas de Macaé por algum tempo. “Quando sai do hospital não tinha para onde voltar, pois havia mandado mulher e filho para São Paulo. Sem dinheiro, passei algumas noites dormindo nas ruas da cidade, tendo minha bolsa roubada com meus documentos. Quando tiver minha vida acertada vou ver meu filho e minha família em Barra Mansa”, disse ele que demonstra habilidades ainda na área de mecânica e elétrica.
A atuação da equipe multidisciplinar, composta por coordenador, assistente social, motorista, psicólogo, pedagogo, médico, monitor, auxiliar administrativo, técnico de enfermagem, cuidador, vigia e enfermeiro, sendo os três últimos em regime de 24 horas de plantão, é responsável por parte do êxito do programa. A pedagoga Elsi Tinoco destaca como gratificante verificar dia-a-dia o resultado dos esforços da equipe. “O trabalho é gratificante, já constatamos verdadeiras mudanças. O engajamento e o entrosamento da equipe têm sido importante fator para o sucesso no trabalho”, ressaltou a pedagoga que desenvolve atividades manuais, educacionais, cognitivas com os abrigados.
A assistente social Ana Dárcia é enfática ao afirmar: “os abrigados são moradores de rua quando estão na rua. Na Pousada da Cidadania eles são cidadãos. Nosso trabalho é tentar resgatar os vínculos familiares, profissionais e de amizade. É oferecer uma nova chance a estas pessoas que em algum momento e por algum motivo, tiveram interrompidos seus processos de vida”.
A Pousada da Cidadania funciona no Barreto, sendo coordenada pela secretaria Executiva de Assistência Social, vinculada à secretaria Especial de Desenvolvimento Social e Humano. “Estar na Pousada da Cidadania significa comprometimento para resgatar a cidadania. Não é hotel, mas sim comprometimento em se tratar, encarar de frente sua história”, encerrou a assistente social Ana Dárcia de Barros Palmeira.