História de Macaé em destaque

14/05/2010 11:30:36 - Jornalista: Alexandre Bordalo

A mestre em História e historiadora do Solar dos Mellos, Conceição Franco, que coordena o Projeto Macaé em Fontes Primárias, conta um pouco sobre o início de Macaé. Ela pesquisou e estudou diversas fontes por três anos, além de investigar que a imagem mais antigas de Macaé, de Nossa Senhora da Conceição da Santa Virgem, está numa capela próxima ao distrito de Córrego do Ouro.

Secom – Conceição, fale a respeito da cronologia da ocupação do território onde Macaé está inserida.

Conceição Franco – A região que passou a chamar-se Macaé integrava a capitania de São Tomé, doada a Pero de Góis em 1538. Na capitania, ele fundou a primeira vila (vila da Rainha), localizada em São João da Barra. Em 1546, Pero de Góis renuncia à capitania a favor de seu filho, Gil de Góis, que em 1619, renuncia à capitania, com o nome de Paraíba do Sul, em favor da Coroa Portuguesa. Esta doou a donataria da capitania aos sete capitães. Entre 1632 a 1634, houve o estabelecimento dos sete capitães na região.

Secom – Dando continuidade a essa cronologia ocupacional, o que mais ocorreu?

Conceição Franco – Exato, a partir de 1648 houve a divisão da capitania em 12 quinhões, parte deles entregues aos jesuítas e beneditinos. Em 1674, ocorre o domínio da nobreza Asseca, cuja principal autoridade era o Visconde de Asseca. Em, 1753 a capitania é incorporada ao Espírito Santo. Em 1832, é anexada à Província do Rio de Janeiro.

Secom – E a ocupação do território macaense de modo direto?

Conceição Franco – A ocupação de Macaé ocorreu entre os séculos XVI e XVII, com o estabelecimento de currais para cavalos e gado. Os jesuítas receberam a terra onde fica a igreja de Sant’Anna, em 1630.

Secom – E o setor econômico daquela Macaé?

Conceição Franco – No século XVIII, aconteceram a expansão dos canaviais e a passagem da cultura de alimentos para atividades destinadas ao abastecimento do mercado interno. Já no século XIX inicia-se a cultura dos cafezais. Entre meados do século XVIII e início do XIX, as principais atividades econômicas em Macaé foram o comércio de madeira, os engenhos de açúcar, cultivo de milho, arroz, algodão e mandioca.

Secom – Como se deu o processo de ocupação e de desenvolvimento da região?

Conceição Franco – No processo de ocupação e de desenvolvimento da região, a Coroa Portuguesa ao incorporar a região ao seu processo colonizador dava início à distribuição de sesmarias para as ordens religiosas e particulares. O principal objetivo disso era estabelecer núcleos populacionais que desbaratassem os contatos com estrangeiros, além de tornar os índios aliados da Coroa Portuguesa.

Secom – E esse processo em Macaé?

Conceição Franco – Em Macaé ocorre a instalação dos jesuítas. Houve um processo de aldeamento dos índios Sacurus – habitantes das cabeceiras dos rios Macaé e Macabu. Esses índios foram aldeados pelo padre presbítero do hábito de São Pedro, Antonio Vaz Pereira, em 1747, na primeira metade do século XVIII. É bom lembrar que este padre não era jesuíta, mas secular ligado a Roma.

Secom – E qual era o objetivo dele?

Conceição Franco – Ele tinha a missão de catequizar os índios juntamente com os demais religiosos (jesuítas, franciscanos, capuchinhos, beneditinos e outros). O padre Vaz Pereira foi destacado pelas autoridades eclesiásticas como um dos maiores missionários do século XVIII, uma vez que converteu 25 aldeias em dez anos, nas matas do Rio de Janeiro e Espírito Santo.

Secom – Qual foi a marca do padre Vaz Pereira em Macaé?

Conceição Franco – Ele ergueu uma capela dedicada a Nossa Senhora da Conceição da Santa Virgem, localizada no Sítio das Neves em área próxima ao distrito macaense de Córrego do Ouro, em 1747. Faz parte do acervo das imagens mais antigas de Macaé a imagem de Nossa Senhora da Conceição da Santa Virgem.

Secom – Fale mais dessa imagem.

Conceição Franco – É uma escultura original da Aldeia de Macaé (1747), Imagem confeccionada em madeira, com o interior oco, de altura total de 96 cm (10 cm de base), largura de 49 cm. Classificada na categoria de imagem de vestir, por possuir articulações nos ombros e cotovelos. O rosto as mãos são áreas de carnação. Possui corpo definido anatomicamente, tendo um corpete delineado com debrum dourado no bico e na gola e a saia em estilo godê, ambos pintados na cor azul celeste (que não é original).

Secom - E o que mais?

Conceição Franco - A saia, ornada com estrelas douradas, cobre-lhe os pés. A santa está de pé sobre volutas em forma de nuvens, os quatros querubins que compõem esta imagem estão soltos. Sob elas parte do globo celeste pintado em azul. Está assentada em uma base de 10 cm de altura e 33 cm de largura, que em forma cônica, apresenta as faces escavadas e quinas chanfradas. A peça encontra-se com problemas estruturais graves, como rachaduras, trincas, falta do membro superior direito e dos quatros querubins que são presos a imagem por cravos. Sofre com ataques de cupins e brocas. A imagem não se encontra em exposição, necessitando com a máxima urgência de uma restauração.